segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O sistema II


Portugal, 16 de Outubro de 2012

Na continuação do tema do texto anterior, que abordou as diferentes facetas do “sistema” que está implantado no futebol, tema que neste momento será menos apetecível do que o tema “eleições” (lá irei também), vou ilustrar mais alguns aspectos desse conjunto de regras e procedimentos que estão implantados e orientados para favorecer, de forma mais ou menos evidente, o FCP e um grupo de clubes que se inter-relacionam segundo determinada hierarquia.

Após o jogo, o treinador do Beira-Mar sugeriu explicitamente que teriam havido erros de arbitragem que favoreceram o Benfica. A expressão “desejo um futebol limpo”, logo aproveitada pela comunicação social (também parte deste “sistema”) faz parte de um modus operandi dos treinadores derrotados pelo Benfica. Até já o “nosso” JJ fez esse papel quando perdeu com Quique Flores na Luz. Ou seja, trazer para o debate a arbitragem com sentido de a condicionar negativamente para os jogos seguintes do Benfica e até justificar os erros que o “sistema” programa nesses jogos do Benfica (não vos diz nada isto: “ah, e tal, vocês foram prejudicados aqui mas foram beneficiados com o Beira-Mar”). Mais uma regra do “sistema” que, obviamente, não se aplica ao FCP (se não, não era regra do “sistema”).

Ora o argumento do treinador do Beira-Mar é uma falácia, tal como a esmagadora maior parte das vezes que eles se queixam. Revendo o jogo, o que vemos é bem distinto do que foi apregoado. Há 2 lances para marcação de penalty a favor do Benfica, que este Rui Costa já assim interpretou em jogos do FCP. Um ao mn 6 (logo após o golo do Beira-Mar) por agarrão a Maxi Pereira que as imagens da Sporttv desta vez não ampliaram e repetiram 3 e 4 vezes como fazem com os jogos o FCP, outro ao mn 68 por corte com o braço de remate de Enzo Pérez (recordar penalty assinalado contra o Leixões e a favor do FCP quando Quique Flores esteve aí, recordar primeiro golo da Itália na Arménia na ultima jornada de apuramento para o Mundial 2014).

Houve 2 erros nos foras de jogo. Isto é, os árbitros assistentes assinalaram mal 2 foras de jogo ao ataque do Beira-Mar, mas também deixaram passar 2 lances, num dos quais o jogador estava – sem exagero - 3 metros deslocado!
No resto, o árbitro perdoou 3 ou 4 cartões amarelos a jogadores aveirenses (a mais evidente foi uma entrada a pés juntos sobre Gaitán para desviar uma bola para canto), e 1 ou 2 aos jogadores do Benfica. Resulta daqui que a arbitragem não foi limpa, sim, mas contra o Benfica e não contra o Beira-Mar!

Mas o “sistema” é complexo e não facilita e assim o árbitro Bruno Paixão ficou fora da lista de internacionais. E porquê? Dos jornais, porque SCP e FCP contestaram a sua nota nos jogos que ambos perderam em Barcelos. De acordo com os mesmos jornais, a reclamação do SCP originou um abaixamento da nota dada pelo observador (que assim também ficou em maus lençóis), acto este praticado pelo Presidente do CA da FPF que por acaso é sócio de mérito do SCP. E decidiu sozinho.

Ora Bruno Paixão contestou a decisão de Vítor Pereira para o CJ da FPF. Que no mesmo dia em que aprovou o recurso do Benfica sobre a decisão da Liga em proibir o empréstimo de jogadores a clubes da mesma divisão, adiou o recurso de Bruno Paixão, que era mais antigo do que o do Benfica! E assim se vê como todo o aparelho federativo presidido por Fernando Gomes (apoiado por Filipe Vieira) trabalha, dentro de uma suposta “legalidade”, para intimidar e punir árbitros que têm o “azar” de apitar jogos que o FCP perde.

Ou seja, quem quiser chegar a internacional e arbitrar jogos muito bem pagos (não será por acaso que a nossa comunicação social “esconde” os prémios por arbitragem na UEFA, Champions, apuramentos e fases finais das Selecções), não pode, não deve deixar que o FCP perca pontos.

Lembro que Bruno Paixão não inventou 2 penaltys contra o FCP ou contra o SCP, como fez Xistra em Coimbra contra o Benfica (obtendo nota 3,9 que é nota de excelência!). Num caso, o FCP ficou a reclamar 2 penaltys que nem para o painel do JOGO foram consensuais, noutro caso o SCP reclamou dos 2 penaltys assinalados na mesma jogada, um dos quais, por corte de braço de Schaars, pode ter sido feito fora da grande área, foi de facto um lance duvidoso. Motivo para nota negativa num jogo perdido 3-1 num caso e 2-0 noutro?

A arbitragem de Bruno Paixão não foi escandalosa. Mas o FCP não ganhou. E o SCP também não. Regra do “sistema”: temos de “encostar” os árbitros que dão “azar” ao FCP. Para Xistra não houve igual critério. E percebe-se porquê: porque o Benfica perdeu pontos... para o FCP!

A coisa funciona tão bem, que já esta semana o presidente do Leixões veio dizer para os jornais que “Bruno Paixão não pode apitar”. E tudo porque expulsou 2 jogadores ao Leixões. Não se interessa se foram bem ou mal expulsos (e aqui mais uma vez a comunicação social, concorda, pelo silêncio), mas sim associar a arbitragem à derrota do Leixões. Os que ganharam, Santa Clara, ficam calados. Não se pode contrariar a lógica do “sistema” sob pena de futuramente serem penalizados, em campo, por decisões de arbitragem estranhas.

Perante este “sistema” bem oleado e estruturado, queremos ser campeões com super investimentos em jogadores que elevam o passivo bancário acima dos 250 milhões de euros? Perante estas evidências, a quem interessa o endividamento galopante do Benfica?

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